Quando o fim vira começo: como transformar entrevistas de desligamento em estratégia
Maria Eduarda Kutney
Autor
Entrevista de desligamento: por que muitas não funcionam (E como torná-las estratégicas)
A entrevista de desligamento é uma conversa em que o colaborador compartilha as razões do seu desligamento da empresa. Em teoria, ela serve para entender os motivos da saída, captar percepções sobre o ambiente de trabalho e identificar oportunidades de melhoria. É uma das poucas chances que a organização tem de ouvir feedbacks mais honestos, ou pelo menos deveria ser.
Um questionamento que é levantado: é válido falar com o colaborador quando ele já decidiu sair da empresa? Em muitos casos, os problemas já haviam sido falados repetidamente antes da decisão de ir embora, e ninguém deu ouvidos. Agora que a decisão de sair foi tomada, eles irão querer falar sobre a sua experiência? E além disso, serão escutados?
Essas perguntas colocam em xeque o real valor da entrevista de desligamento, uma prática muitas vezes tratada com ceticismo tanto por líderes quanto por ex-colaboradores. Mas será que essa visão faz jus à realidade? Neste texto, vamos olhar com mais atenção para essa ferramenta, entender como ela é feita na prática e analisar, com dados, se a entrevista de desligamento pode, ou não, ser uma aliada estratégica para as empresas que querem evoluir.
As empresas estão fazendo uso da entrevista de desligamento?
As entrevistas de desligamento estão ganhando destaque no mundo corporativo. Isso fica claro quando estatísticas da Soocial indicam que quase 75% de todas as empresas estão fazendo uso dessa ferramenta(1). De exemplos de grandes corporações que realizam entrevistas de desligamento, é possível citar a Microsoft, LinkedIn, McKinsey & Company e Cisco. Essas empresas, com base nos dados coletados nas entrevistas, conseguiram fortalecer a retenção de talentos, melhorar os treinamentos internos, aprimorar o desenvolvimento da liderança e também promover uma melhor experiência para o colaborador (2).
Apesar desses casos de sucesso, muitas empresas talvez ainda não vejam os efeitos positivos dessa ferramenta em seu dia a dia. Afinal, o que influencia na efetividade de uma entrevista de desligamento?
O que faz uma entrevista de desligamento não ser uma estratégia eficaz?
Existem diversas situações que podem impedir que essa prática gere resultados efetivos. Na maioria das vezes, isso acontece porque os dados coletados não são analisados adequadamente ou porque não são tomadas providências com base na análise realizada. Em outras palavras: algumas empresas coletam dados, mas não os analisam; outras até analisam, mas não agem sobre o que descobriram.
Fica evidente que a minoria das empresas coletam, analisam, compartilham os dados e os acompanham com ações. Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review (4), com 220 executivos e líderes seniores de 210 organizações em mais de 35 países, menos de 1/3 dos executivos puderam citar uma ação específica tomada como resultado de uma entrevista de desligamento. Se nada é feito a partir do que é coletado, essa conversa se torna um mero ritual vazio do processo de offboarding.
A participação dos ex-colaboradores também é uma questão. Um estudo da Workplace Insights (3) afirmou que os principais motivos pelos quais os funcionários se recusam a participar de uma entrevista de desligamento incluem preocupações com a confidencialidade (37%), a sensação de que a empresa não agiria com base no feedback (24%) e a falta de confiança na gestão (19%).
Diante disso, é importante destacar que essa ferramenta não será eficaz enquanto não promover um espaço seguro de escuta. E para além disso, se os dados coletados não se transformam em mudanças, qual o real propósito do uso dessa ferramenta? Na prática, o que vemos é a perda do verdadeiro potencial dessa ferramenta para gerar melhorias significativas. E também traz à tona a diferença entre uma entrevista de desligamento promovida pela empresa, para quando é promovida por uma consultoria externa.
Consultoria Interna X Consultoria Externa
Segundo a Harvard Business Review(4), 71% das entrevistas de desligamento são feitas pelo departamento de RH, 19% pelo Supervisor direto, 9% Gerente do supervisor e apenas 1% por Consultores externos. Infelizmente essa é uma das principais razões para as questões tratadas anteriormente, como garantia de confidencialidade, análise e encaminhamento dos dados.
Quando a entrevista é feita pelo departamento de RH da empresa, ex-colaboradores podem temer falar a verdade e terem sua rescisão prejudicada. E quando feita por uma liderança direta, o entrevistado não se sentirá à vontade para trazer as motivações, diretamente ou indiretamente, relacionadas ao seu líder. Uma consultoria externa e especializada como a Numera, por outro lado, que possui um time treinado para acolhimento e escuta ativa, garante o sigilo que permite identificar padrões críticos, consistentes e imparciais para a evasão.
Estudos(5) mostram que os motivos declarados por ex-colaboradores em entrevistas de desligamento variam significativamente dependendo de quem conduz a entrevista, sendo a própria empresa ou um agente externo. Essa diferença pode chegar a 63% dos casos. Na Numera, a discrepância também foi observada em nossos projetos.
Um exemplo marcante foi identificado em um projeto com uma grande empresa do setor têxtil. As entrevistas realizadas internamente indicavam que 79,2% dos desligamentos se deviam a fatores externos à organização, como estudo, problemas familiares pessoais ou mudança de cidade. No entanto, quando a Numera conduziu as entrevistas, o cenário se inverteu: 81,8% dos ex-colaboradores apontaram motivos internos como causa da saída, entre eles a falta de suporte e acolhimento, condições do ambiente de trabalho e remuneração, revelando uma diferença significativa na percepção sobre as razões do desligamento.
Um potencial que vai além da taxa de Turnover
A entrevista de desligamento não é apenas uma formalidade no fim do ciclo do colaborador. Ela pode ser um poderoso instrumento de inteligência organizacional. Quando estruturada com escuta ativa, imparcialidade e compromisso com a ação, deixa de ser um ritual vazio e passa a representar um gesto claro de respeito ao colaborador e um investimento na cultura da empresa.
Os dados da Numera mostram que, ao contrário do senso comum, ex-colaboradores querem, sim, falar sobre sua experiência e, mais do que isso, querem ser ouvidos. A alta adesão observada em nossos projetos reforça essa leitura. Mas isso só é possível em contextos que garantem confidencialidade, neutralidade e credibilidade ao processo.
Empresas que levam esse momento a sério não apenas reduzem o turnover; elas ganham clareza sobre os pontos de melhoria, fortalecem a reputação e constroem ambientes mais humanos e sustentáveis. A entrevista de desligamento bem feita não fecha portas, mas sim abre caminhos para decisões melhores e organizações mais fortes.
Se você quer entender como aplicar essa prática de forma estratégica na sua empresa, fale com um de nossos especialistas. Estamos prontos para te ajudar a transformar desligamentos em aprendizado e evolução.
Referências